Opinião: O Homem Mais Feliz do Mundo | Eddie Jaku
A vida inspiradora de um sobrevivente de Auschwitz
SINOPSE: Eddie Jaku nasceu na Alemanha em 1920 no seio de uma família judaica, sempre carregando com orgulho a sua nacionalidade. No entanto, tudo isso mudou drasticamente em Novembro de 1938, quando foi detido, espancado e levado para um campo de concentração. Depois de sobreviver aos mais desumanos horrores, perder os seus familiares, amigos e o seu país, Eddie fez uma promessa: sorrir todos os dias. Hoje acredita ser o «homem mais feliz do mundo».Por ocasião do seu 100. º aniversário, Eddie Jaku oferece-nos um testemunho poderoso, desolador e, ao mesmo tempo, derradeiramente optimista de como a felicidade pode ser encontrada até no momento mais sombrio da Humanidade.
Foi por volta dos 9/10 anos que comecei a ler livros sobre o Holocausto, tal como, felizmente, muitos Portugueses, por termos «O Diário de Anne Frank» no Plano Nacional de Leitura, foi também por volta dessa idade que depois li o livro «Holocausto» de Gerald Green o qual inspirou uma mini-série em 1978, e tenho lido muitos mais ao longo da minha vida. Desde que comecei que sinto uma enorme necessidade de fazer com que essa parte da história jamais seja esquecida, não só o holocausto judeu mas todos aqueles que perderam a vida devido aos pérfidos ideais de um louco - os membros da resistência, deficientes, estrangeiros, homossexuais, ciganos e tantos, tantos outros... até os da própria "raça", se fossem contra os seus ideais...
Além dos filmes e documentários que já vi, alguns já comentados aqui no blog e outros ainda estão para vir, pensei que já nada me surpreendesse sobre os relatos verídicos de quem aquilo viveu, mas não... cada livro, filme, série, documentário que eu veja, aprendo sempre mais alguma coisa sobre até onde pode ir a crueldade e miséria humana...
E assim foi com este livro. Já vi uns documentários - que irei comentar aqui no blog - sobre perseguição a fugitivos nazis, que décadas depois foram finalmente encontrados e foram a julgamento, e num desses documentários «The Accountant of Auschwitz» houve uma cena em que a Eva Mozes Kor, do livro «As Gémeas de Auschwitz» abraça o nazi Oskar Gröning, ex-oficial da SS que estava a ser julgado e diz que o perdoa, "Perdoem os vossos inimigos!", sendo que foi vaiada pelos sobreviventes e familiares/descendentes que estavam a assistir ao julgamento e fiquei com um misto de sentimentos a contorcerem-se no meu peito... não sou pessoa que ache que é bom viver com ódio e ressentimento, mas perdoar? Foi algo que não teve directamente nada a viver comigo e nem eu perdoo... ela até até pode perdoar o que ele lhe fez a ela pessoalmente, mas não a milhões de pessoas no mundo inteiro...
Comecei esta leitura a pensar que iria encontrar algo assim do género, que o Eddie falasse sobre o perdão e coisas tais, que iria mexer novamente com as minhas convicções - e não fujo disso, gosto de me desafiar - mas não... foi uma leitura absolutamente incrível e brutalmente honesta, narra as suas memórias desde pequeno até à actualidade, e diz o que eu considero que faz mais sentido: perdoar nunca, mas não vai estragar a sua vida ainda mais do que a estragaram a viver afogado em rancor e ódio. Pegou no que viveu e aprendeu, e quer usar isso para tornar o mundo um lugar melhor.
Mas não foi fácil chegar a este estado de paz e felicidade e o Eddie é muito honesto nesse sentido - e digo Eddie com esta informalidade pois o autor narra as suas memórias como se estivesse a conversar connosco e assume que durante a leitura o elo entre autor e leitor será de pura amizade - é uma forma de narrativa muito original, íntima e emotiva.
O motivo de eu gostar cada vez mais de ler apenas relativos verídicos do holocausto - ao invés dos romantizados - é que a dada altura vamos ver que os sobreviventes que conseguiram transmitir a sua história para os livros ou se cruzaram, ou se conheciam, ou passaram pelo mesmo, em locais diferentes mas com as mesmas pessoas... principalmente nos livros que se focam em Auschwitz, por exemplo: consegui perceber que o Eddie estava lá quando Hana Brady foi gazeada, quando a Mala Zimetbaum e o seu amado Edek Galinski foram assassinados publicamente por fugirem, quando a Fania Fenelon tocava na sua banda, o Primo Levi também por lá andava, Rena Kornreichv do livro «As Irmãs de Auschwitz», também as gémeas de Auschwitz torturadas pelo Mengele, que o Eddie também conheceu, doutor esse que tantos torturou, matou, infectou, esterelizou e pior ... todos acabavam a dada altura por se cruzar e nestas leituras vamos começar a reparar nisso.
É uma leitura brutal e honesta, mas é uma leitura que eu considero apta para os mais novos que já se estrearam com a Anne Frank, as partes violentas são breves e não muito descritivas, são mais assertivas do que outra coisa, o ritmo é cru, mas pessoal e sincero, ler este livro é como estar a conversar com um amigo que nos está a abrir o coração, que não nos esconde nada e a partir deste momento a sua história vai fazer parte da minha, para sempre.
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