Opinião: As Gémeas de Auschwitz | Eva Mozes Kor e Lisa Rojany Buccieri

Uma história notável de fé, sobrevivência e coragem.

SINOPSE: Na verdade, estávamos na Polónia, mas os Alemães tinham invadido a Polónia. Era na Polónia alemã que se situavam todos os campos de extermínio.

Os cães rosnavam e ladravam. As pessoas do vagão começaram a chorar, a berrar, a gritar todas ao mesmo tempo; todos procuravam os seus familiares à medida que eram afastados uns dos outros. Separavam homens de mulheres, filhos de pais.

Um guarda que ia a passar a correr parou bruscamente à nossa frente. Olhou para Miriam e para mim nas nossas roupas a condizer: «Gémeas! Gémeas!», exclamou. Sem dizer uma palavra, agarrou em nós e separou-nos da nossa mãe. Miriam e eu gritámos e chorámos, suplicámos, as nossas vozes perdidas entre o caos, o barulho e o desespero, tentando chegar à nossa mãe, que, por sua vez, tentava seguir-nos, de braços estendidos, com outro guarda a retê-la.

Miriam e eu tínhamos sido escolhidas. De repente, estávamos sozinhas. Tínhamos apenas dez anos. E nunca mais voltámos a ver nem o nosso pai nem a nossa mãe.


Sendo que já li uma diversidade considerável de livros sobre o Holocausto, começo a ter receio de que um dia perca a capacidade de me chocar ou surpreender com a capacidade humana para o mal, e sendo que já li por aí umas quantas opiniões sobre este livro de que "não é nada de mais", avancei com um pé atrás, mas tal não se justificou. 

Adorei esta leitura e sinto-me honrada por a história de vida de Eva e da irmã Miriam e através da sua partilha a história de vida de tantos outros agora fazerem parte de mim. Dou é por mim cada vez mais chocada não com os descumunais actos de crueldade, como enfiarem milhares de pessoas em câmaras de gás ou em carruagens de gado em comboios - que choca, chocará sempre - mas o que mais me arrepia ultimamente são as pequenas coisas, pequenos desabafos de quem viveu em primeira mão aqueles tempos, aquela perseguição, pequenos actos de crueldade, o cruel que as crianças conseguem ser umas com para as outras, o influenciável que as pessoas são, o horrível relato da propaganda antissemita nazi, castigos como ajoelhar crianças em cima de grãos de milho seco, atirar água para o chão no meio de pessoas a morrer de sede... as pequenas formas de como a dignidade humana sucumbe, por vezes quase sem nos darmos conta... isso é o que me choca mais, ultimamente...

Este livro lê-se de uma forma muito íntima e fraterna, como se a autora estivesse a falar connosco directamente, contando-nos as suas memórias, como se de uma conversa se tratasse, lembrou-me as conversas que costumo ter com a minha avó, especialmente aquando o uso das expressões - naquele tempo não havia isto e aquilo que vocês têm agora... - A Eva é uma mulher cá das minhas, cheia de garra, coragem e teimosia. Esta é uma leitura íntima e acessível, perfeitamente indicada para quase todas as idades, até mesmo as crianças que já começaram a ler Anne Frank esta é uma leitura perfeitamente adequada, ou para quem queria ler sobre o tema, mas sem ser uma leitura demasiado pesada, esta é a leitura ideal, é um relato carregado de memórias, sentimentos e emoções que não deixa esquecer o que aconteceu, para que não se torne a repetir...

«Se eu tivesse morrido, Mengele teria dado uma injeção letal à minha irmã para fazer uma autópsia dupla. Só me lembro de repetir para mim mesma: tenho de sobreviver, tenho de sobreviver.» Eva Mozes Kor

As portas do vagão abriram-se pela primeira vez em muitos dias e a luz do dia brilhou sobre nós.

Agarrei bem a mão da minha irmã gémea quando nos empurraram para a plataforma.

- Auschwitz? É Auschwitz? Que sítio é este?

- Estamos na Alemanha - foi a resposta.

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