Opinião: Nas Minhas Mãos, a Morte | Anabela Lopes


Há certos poderes que não deviam ser dados a meros mortais…
SINOPSE: «O pobre rapaz não compreendia o que se passava com ele, e o seu olhar de confusão dava-me uma tremenda vontade de rir; senti-me poderoso, invencível, intocável.»

Tomás nasceu no meio da lama e dos dejetos dos animais. Um triste prenúncio para os seus primeiros anos de vida: a violência de um pai alcoólico, a cobardia de uma mãe incapaz de o defender e a crueldade dos colegas de escola.

Certo dia, o jovem percebe que tem um poder. Num momento de extrema humilhação, deseja a vingança e alcança-a, usando apenas o poder da mente. É assustador, pois algo se revela dentro dele que parece incontrolável. Mas, com o tempo e a prática, esse dom permite-lhe começar a fazer coisas impensáveis. Vinga-se, faz justiça com as próprias mãos, sempre nas sombras… um poder tão discreto que ninguém sonha que foi ele quem matou o próprio pai.

Porém, uma carta há muito esperada vem trazer uma notícia que vira a vida de Tomás do avesso, e o seu maior segredo pode estar em risco. Não só o seu segredo, mas tudo aquilo em que ele acredita. Anabela Lopes oferece-nos uma viagem única pela vida misteriosa de Tomás, daqueles que ele amou e odiou profundamente, mas também daqueles que ele matou.

Pelo que me foi dado a entender, nas notas finais do livro, a autora duvida - ou duvidava - da sua capacidade de escrita.

Bem, durante toda a narrativa, tive constantemente um pensamento: que escrita fabulosa, que narrativa cinematográfica, que intensidade de emoções e fluidez, quem é esta autora?!

É um género de escrita que habitualmente não associo - na verdade, não associava - aos nossos autores nacionais. Apesar de ter vindo a descobrir fabulosas revelações nos últimos anos! Ainda me lembro de, no tempo da escola, ter deixado de ler as leituras obrigatórias, para aí no 7º ano, porque achava a narrativa nacional demasiado teatral, pouco realista, pecava pelo excesso de drama descabido, carregada de um estranho lirismo, pouco fluída.

Então, passei a ler exclusivamente literatura traduzida, até me ter deparado com o livro "Índias", do João Morgado, e a partir daí voltei a dar uma nova oportunidade aos autores nacionais e que fabuloso novo mundo de descoberta e até de novas amizades tem sido!

E esta autora mostra isso mesmo: a evolução da escrita nacional, e que assim continue.

Esta é, acima de tudo, uma história sobre violência doméstica, bullying, mesquinhez humana, e em como é difícil sermos mentalmente sãos nesta sociedade que nos esmaga, que nos oprime, que não nos dá nada, mas nos quer tirar tudo...





Capta tão, mas tão bem o que é viver numa pequena vila/aldeia, as suas gentes, as suas manias. É um retrato muito fiel dos anos 70/80, um drama tão intimista, tão real. É impossível ler este livro sem ficar com as emoções à flor da pele e com o coração... nas mãos.

E essa expressão - ficar com o coração nas mãos - tem um duplo significado nesta inacreditável história, que também explora os mistérios da mente, a intensidade dos dramas familiares e pessoais, tão bem conhecidos por tantos de nós. É uma leitura muitíssimo envolvente e o final... o final!

Acho que foi a primeira vez na vida que, depois de ler o último parágrafo de um livro, o encostei à cara e dei um berro!

De surpresa, de choque, de estupefação, e apesar de adorar a possibilidade de haver uma continuação, se este for realmente o final desta história, é já de si inacreditavelmente fascinante.

Fabuloso!
Ao usar estes links 👉🏻 Wook | Bertrand 👈🏻para comprar livros,
está a ajudar o blog e o meu projecto de doação de livros às nossas bibliotecas públicas ♥️

Comentários