Opinião: O Herói do Autocarro Noturno | Onjali Q. Raúf

SINOSPE: Novo livro de Onjali Q. Raúf, a autora multipremiada do bestseller O Rapaz ao Fundo da Sala. Uma história, contada pela voz de um bully, que nos mostra que todos temos direito a uma segunda oportunidade.

Eu sou o Hector e sou especialista em arranjar sarilhos... e quanto mais loucos, melhor! Sim, sou um bully, mas não sou mentiroso! No entanto, parece que já ninguém acredita em nada do que digo, mesmo quando estou a dizer a mais pura das verdades. E isto piorou depois da partida que preguei ao Thomas, um velhote sem-abrigo que vive há séculos no parque, e que eu acusei de algo que não fez...

Todos pensam que sou só um caso perdido, mas vou corrigir o meu maior erro e provar a toda a gente que sou capaz de mudar, e que também posso transformar-me num herói!

Narrada pela voz de um bully, esta história celebra os recomeços e as segundas oportunidades. Um livro emocionante que nos mostra a realidade dos sem-abrigo, tantas vezes invisíveis e incompreendidos, enquanto exalta a bondade, a amizade e a certeza de que todos temos, dentro de nós, a capacidade de mudar para melhor.

Adoro esta autora, fiquei absolutamente sensibilizada com o livro «O Leão por Cima da Porta» e vou fazer por ler todos os livros já publicados da autora cá em Portugal. Este é daquele tipo de livros que dá perfeitamente para ser lido por miúdos e graúdos, e o que de mais fascinante tem é que é todo ele narrado pela perspectiva do bully, ou seja, quem pratica o bullying, e não da vítima, como é costume.

No entanto, estava à espera que a autora explorasse mais a fundo o psicológico do bully a origem da maldade e mesquinhez do Hector, o que ele sente realmente quando pratica as maldades, quando magoa e goza com os outros. 

Na narrativa assistimos aos seus actos, e pelo que dá a entender será por se sentir desprezado pela família. Normalmente essa é uma das justificações mais comuns de quem envereda pelo caminho do bullying: sentir-se posto de parte, inferior, abusos ou desprezo familiares, traumas profundos ou pura sociopatia/psicopatia. No caso do Hector, é, na minha opinião, é por puro egocentrismo, pois não dá valor ao que tem.

Tem uma excelente casa, uma boa família, simplesmente tem pais ausentes viciados no trabalho, e isto misturado com o comum sentimento de se sentir incompreendido e demasiadas hormonas descontroladas e más companhias, por vezes cria jovens confusos, como é o caso dele, em que não consegue separar o bem do mal. Ou pura e simplesmente não quer saber.

Isto, a autora não explorou bem e tinha abertura para tal, mas deduzo que não seja propriamente fácil entrevistar bullys e perguntar-lhes o que realmente sentem quando estão a praticar bullying, que era o que eu realmente queria saber. 

Nesta  narrativa vamos tendo uns vislumbres disso, da parte psicológica e sentimental, mas não o suficiente para chegar à essência, queria sentir o que ele sente quando rouba e bate nos colegas, com crueza, sem filtros, compreender o porquê, infelizmente, existirem tantos como ele...

Vai-se meter em sérios sarilhos, e vamos assistindo a uma evolução na sua personalidade, mas será que merece uma segunda oportunidade, uma redenção, e o perdão de todos aqueles a quem fez mal?





Será que é bully por pura maldade, por estupidez, por egocentrismo e incompreensão das consequências daquilo que está a fazer, apesar de todos os castigos, recriminações e desprezo de todos?

Um bom livro para o PNL, para ser debatido em aula, pois não só aborda esta questão que a mim muito me assiste, por o ter sofrido tanto em criança como em adulta - o bullying - como também aborda muito o tema dos sem abrigo, outra temática que também me assiste demasiado, pois neste momento encontro-me a viver num quarto, deixei de ter uma casinha minha, e não sei se alguma vez voltarei a ter, e vivo no constante receio de um dia ficar sem teto, pois a instabilidade de quem vive em quartos é demasiado grande e sufocante...

Acredito ter alguma família e amigos que não permitissem eu chegar a esse ponto, mas o medo vive sempre lá.

Um livro muito introspetivo para crianças e adultos. 

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