Opinião: Mãe, Doce Mar | João Pinto Coelho

SINOPSE: Depois de passar a infância num orfanato, Noah conhece finalmente Patience, a mãe, aos doze anos. Mas, apesar de ela fazer tudo para o compensar, nunca se refere ao motivo do abandono; e, por isso, seja na casa de praia de Cape Cod, onde passam temporadas, seja no teatro do Connecticut onde acabam a trabalhar juntos, há um caminho de brasas que teima em separá-los mas que nenhum ousa atravessar.

Quando Noah encontra Frank O’Leary - um jesuíta excêntrico que guia um Rolls-Royce às cores -, descobre nele o amparo que procurava. Mesmo assim, há coisas que o padre prefere guardar para si: os anos de estudante; o bar irlandês de Boston onde ele e os amigos se encharcavam de cerveja e recitavam poemas; e ainda Catherine, a jovem ambiciosa que não temeu desviá-lo da sua vocação.

É, curiosamente, a terrível experiência de solidão num colégio religioso o primeiro segredo que Patience partilhará com Noah; contudo, quando essa confissão se encaixar no relato do padre Frank, ficará no ar o cheiro da tragédia e a revelação que se lhe segue só pode ser mentira.

Fiquei perdidamente encantada com a escrita do autor João Pinto Coelho após a leitura do livro "Perguntem a Sarah Gross", e então passou a ser um objetivo meu ler todos os livros do autor, e assim será.

Entretanto, tive uma oportunidade que nunca pensei vir a ter: receber o novo livro do autor, pelas suas mãos, ainda antes de estar à venda, para eu poder ser das primeiras pessoas a ler o seu novo livro, uma estreia escrita num género diferente ao que o autor já nos habituou, e uma grande honra para mim!

O autor já nos habituou à temática holocausto e antissemitismo, neste romance: Mãe, Doce Mar, o autor abre-nos totalmente o seu coração, somos transportados até ao íntimo do autor, não havendo nenhum outro livro seu - até ao momento - que seja tão íntimo como este.

É uma leitura que nos agarra, que nos sacode e no final nos abandona com uma sensação de pertença...





No final da leitura, senti aquele aperto que só os leitores conseguem sentir, que é verem aproximar-se o final da narrativa, e já estamos cheios de saudades de certas personagens, não queremos que a leitura acabe, mas queremos desesperadamente saber o desfecho!

Adorei a sagacidade, atrevimento e humor irónico da personagem Noah, gostei muito da personagem caricata do padre irlandês Frank O’Leary, e achei absolutamente fascinante a atormentada personagem Patience. Na narrativa, temos capítulos dedicados a cada uma destas personagens, vivendo a narrativa da perspectiva de cada um deles, na primeira pessoa.

Ficamos com a sensação de que conhecemos estas personagens, como se fizessem parte da nossa vida...

A forma como o autor valsa com as palavras é magnífica, e adoro o toque de humor irónico sempre presente e ainda mais, já é a segunda vez que me acontece com uma leitura sua: o autor dá-nos peças do puzzle, que conseguimos perfeitamente resolver, mas no desfecho vemos que afinal, nada é o que parece ser! Afinal, só estávamos em parte corretos.
Fascinante!

Mais fascinante ainda ser um romance com um valente toque biográfico da vida do próprio autor, e locais aqui representados existirem mesmo, como é o caso de Three Sisters:


Há uma parte no livro em que narra a história destes faróis, de três irmãs, filhas de colonos - rejeitados e párias da sociedade londrina que foram desterrados para as colónias - e de nativos americanos, esta temática então fascina-me enormemente e espero sinceramente que o autor um dia pegue nesta temática e nos ofereça uma homenagem a esse povo tão antigo e sagrado que tanto sofreu às mãos dos invasores...

Partes da narrativa fez-me lembrar dois dos meus livros preferidos de sempre: a parte do desterro de londrinos para "o novo mundo" fez-me recordar o livro "Nunca me Esqueças" da Lesley Pearse, e a narrativa referente à vida de quem trabalha no teatro fez-me lembrar o livro "A Cidade das Mulheres" de Elizabeth Gilbert.

Numa escrita brutalmente humana e honesta, um drama familiar gritante, João Pinto Coelho voltou a arrebatar-me.

👉🏻 Wook | Bertrand 👈🏻

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