Opinião: Quinze Cães | Andre Alexis

Plano Nacional de Leitura
Livro recomendado para o Ensino Secundário como sugestão de leitura.
SINOPSE: Começa assim, com uma aposta entre dois deuses gregos, este desconcertante romance. Hermes e Apolo saem do bar, onde conversavam sobre os mortais, passam por uma clínica veterinária e dotam quinze cães de consciência e linguagem humana. Depois resta-lhes observar, a partir do Olimpo, o desenrolar do drama.
Subitamente capazes de pensamentos complexos, os cães começam a dividir-se. Alguns abraçam a novidade, como o genial Prince, que descobre em si dotes de poeta. Outros, como o temível mastim napolitano que rapidamente assume a liderança, defendem que tudo permaneça igual e que resistam à humanização.

Mas é tarde demais, a consciência já foi semeada. E os cães lutam consigo próprios e com a linguagem estranha que agora possuem - será possível continuar a latir, quando sabem que estão a produzir sons sem significado? Não será humilhante fazerem truques de circo em troca de biscoitos? Os deuses observam deleitados a desintegração do grupo e os destinos de cada um, do estóico mastim, ao filosófico Majnoun, que manterá uma bizarra relação com um casal de humanos.

Obra a todos os níveis original, Quinze Cães ilumina a beleza e os perigos da consciência, e de tudo o que nos torna humanos. Tocante por vezes, reflexiva quase sempre, recupera as tragédias gregas e transporta-as para um mundo absolutamente novo.

Profundamente filosófico e introspectivo, é o que este livro é... uma brutalíssima crítica social da condição humana, espelhada através do mundo canino, o que faz com que as intercidades humanas sejam ampliadas de uma forma quase insustentável, ao ver a brutalidade humana na natureza leal e afável dos cães é doloroso, questões alusivas a religião e política subtilmente inseridas nas suas personalidades caninas além das questões existenciais tipicamente humanas faz como que olhemos para a humanidade e a nossa própria essência com outros olhos...

O autor conseguiu recriar a própria condição canina de uma forma incrível, crua e sem filtros, de uma forma até algo incomodativa, removeu quase toda a "fofura" canina e explorou todas as características mais selvagens e instintivas dos cães, especialmente a dominância e a forma como vivem em matilha.

Além de tudo isto o autor ainda brincou com a mitologia grega, que eu adoro, o que deu um toque ainda mais fascinante a esta intrínseca leitura. Quem me dera que o autor escrevesse algo do género, mas com gatos, seria fascinante viver estes acontecimentos de uma perspectiva felina.

Uma leitura absolutamente original e introspectiva.

👉🏻 Wook | Bertrand 👈🏻

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