Plogging - Lixo na praia | Praia da Rainha | Cascais

Nos anos 90, eu vinha a esta praia, em criança, e divertia-me imenso a apanhar conchas e pedras bonitas, e também peixinhos nas poças das rochas e depois soltava-os em no mar, e ficava assim entretida durante horas, ... tanto que, como diz a minha família, eu tenho bichos carpinteiros e invejo as pessoas, como a minha mãe, por exemplo, que conseguem estar horas quietas e sentadas na praia a desfrutar do sol...

Eu até a ler, que é das coisas que mais amo na vida, passado uns tempos fico super irrequieta e tenho de me levantar e fazer algo na praia. É por isso que sou mais dada às piscinas, como eu sou friorenta, na praia só se a água estiver especialmente boa, e com isto quero dizer morna (!) é que eu vou nadar ou mergulhar, se não vou só molhar as pernas...  na piscina - ou os meus preferidos de sempre, os parques aquáticos! - estou sempre a nadar, a dar mergulhos e nos meus amados parques aquáticos então eu não paro um segundo, mesmo com os meus 30 anos!ヾ(*∇*)ノ 

No entanto, agora, já não são pedrinhas e conchas bonitas que estão espalhadas pela praia - até há pouquíssimas, e os peixinhos nas poças são quase inexistentes... - o que há mais nas praias agora, é lixo.... ( ╯﹏╰ )

Lixo por todooooooo o lado... no areal, nas poças, nas rochas, no mar... a toda a volta, em todo o lado... micro-plásticos, redes, vidros, garrafas, tampas, palhinhas, esferovite, tecidos esfarrapados vários, sacos, copos, latas, caricas, pastilhas, embalagens/pacotes, beatas de cigarro, e são tantas, ma tantas... aos milhões! E o novo pesadelo - máscaras cirúrgicas e luvas descartáveis, ...

Então, como poderia eu, vegan e apaixonada pelo ambiente, andar pela praia com tudo isto à minha volta e debaixo dos meus pés, não fazer nada? Comprei uma pinça telescópica/apanhador extensível e sempre que vou de curtir um dia de praia, lá vou eu... por vezes vou de propósito em jeito de passeio, mesmo no inverno, com as minhas luvas, saco e apanhador só para apanhar o lixo....

Aderi ao plogging: «Atividade desportiva que faz bem à saúde e ao meio ambiente ao mesmo tempo. Criada a partir da combinação das palavras em inglês jogging (corrida) e plocka upp (apanhar), em sueco, o plogging é a nova tendência de fitness. E traz benefícios também ao ambiente e à sociedade», podem ler mais sobre esta modalidade aqui. Ou seja, vou dando passeios pela praia, com um saco ou bolsa, o meu apanhador e apanho todo o lixo que vejo...

Tanto vou caminhando pelo areal, para trás e para a frente, como dou caminhadas dentro de água, por vezes tenho de mergulhar ou nadar até mais longe para apanhar lixo flutuante, normalmente garrafas ou embalagens de plástico e esferovite, trepo pelas rochas, por vezes quando dou conta, finalmente cansada e me vou sentar para comer e me agarrar ao meu livro, vejo que já passou mais de duas horas em que andei eu de lá para cá a apanhar lixo, a caminhar, nadar e a trepar!


Comecei esta guerra ao plástico com este livro, e depois desse vieram outros. Resumindo:
«Os microplásticos representam um problema global em crescimento e uma ameaça direta para o meio marinho, tornando-se um tema extremamente mediático após a descoberta e divulgação da grande “ilha de lixo” (garbage patch) existente no Giro do Pacífico Norte, pelo Capitão Charles Moore .
Os microplásticos (partículas <5mm) resultam de fragmentos maiores por degradação foto‑química e abrasão, são persistentes, encontram-se quer a flutuar à superfície, quer em suspensão na coluna de água, quer depositados nos fundos. Facilmente confundidos com alimento, os microplásticos são vectores potenciais na transferência e exposição dos organismos marinhos a poluentes persistentes orgânicos (POP) de elevada toxicidade, como os PCB, DDT, e PAH, compostos hidrofóbicos que adsorvem facilmente às partículas de plástico. A ingestão de microplásticos constitui uma ameaça de longo-prazo para os organismos marinhos, não só pela possível obstrução mecânica do aparelho digestivo mas também pelos efeitos tóxicos dos POP.»


«A ingestão de plásticos pode também funcionar como um veículo facilitador de transporte de químicos para os organismos. Alguns plásticos contém químicos potencialmente prejudiciais que são incorporados durante o processo de fabrico. Estes aditivos em que se incluem os plastificantes, agentes antimicrobianos e retardantes de chama podem ser libertados para o organismo a quando da ingestão. Sabe-se também que os aditivos dos plásticos adsorvem os poluentes orgânicos persistentes (POPs) da água e que em poucos dias a concentração à superfície do plástico pode aumentar algumas ordens de magnitude em comparação com os teores na água circundante. Se estes químicos adsorvidos forem libertados durante a ingestão esta será uma via fácil de transferência de químicos. A presença de lixo marinho pode provocar alterações/modificações na estrutura comunitária das espécies modificando o habitat original, introduzindo poluentes ou espécies novas e invasivas, alterando o nível de climax da comunidade.»



Neste dia até uma grelha de forno apanhei... usei a minha lancheira para ir apanhando o lixo, pois esqueci-me da minha bolsa...




Eu retiro tantos, mas tantos vidros partidos junto às rochas, que é um milagre se crianças e adultos não pisarem e cortarem os pés todos os dias nas nossas praias...

«Os oceanos são atualmente o destino final de milhares de contaminantes, que podem provocar danos na saúde do ambiente e dos seres vivos. Entre os principais impatos que os contaminantes podem causar no ambiente marinho incluem-se:
- Mortalidade de espécies causada pela libertação acidental ou ilegal de contaminantes altamente tóxicos.
- Risco para a saúde humana e das espécies marinhas devido aos efeitos tóxicos acumulativos de alguns contaminantes ao longo da cadeia alimentar.
Alteração do equilíbrio ecológico dos ecossistemas devido ao possível desaparecimento de espécies chave.
- Prejuízos económicos devido ao decréscimo das pescas ou interdição de zonas balneares.
- Degradação de áreas de grande importância ambiental, como mangais ou corais.
Abaixo apontamos as origens, consequências e possíveis soluções para os principais contaminantes encontrados hoje no oceano.»


Isto foi tudo apanhado a flutuar à minha volta, enquanto andava a nadar...


«É mais do que provável que a ave marinha que vê a voar rente ao mar, a mergulhar para caçar, carregue dentro de si restos de sacos de plástico ou tampas de garrafas. O primeiro estudo ao risco de ingestão de plásticos nas aves marinhas do planeta conclui que 90% de todas as aves marinhas vivas hoje já ingeriram algum tipo de plástico. O plástico é intrinsecamente tóxico e vai ficando cada vez mais nocivo com o passar do tempo, uma vez que acumula poluentes do ambiente marinho circundante. Depois de ingerido por um animal, as toxinas absorvidas penetram na sua corrente sanguínea


É inadmissível que esta praia tão pequena tenha tanto lixo no chão, quando tem TRÊS (3!) conjuntos de QUATRO (!) ecopontos ! Ou seja, tem DOZE (12!) caixotes para o lixo e respectiva separação, tem estes aqui, logo à entrada...


Mais estes aqui, logo no ínicio, e outros iguais, lá ao fundo, ao pé do bar...






O meu apanhador e uma bolsa que era suposta ser para guardar as minhas coisas da praia, a minha mãe ofereceu-ma pelo trocadilho "Beach, please", e ironia das ironias, agora tem este propósito e a frase na sua forma homófona aplica-se...






Daqui já dá para ver lá ao fundo, junto à parede, mais para a direita, um copo de plástico no chão... e pela areia beatas e plásticos pequenos...



Eu levei uma navalha para tentar cortar isto, porque desenterrar não consigo, pois está muito fundo, mesmo assim não consegui, tenho de arranjar uma navalha melhor...


Incrível as coisas que tiro debaixo de água...


Isto já é abuso, pura falta de respeito...


Na foto só aparece uma, mas apanho imensas caricas destas, dentro e fora de água, muitas, como esta, já ferrugentas, outras até já com algas incrustadas e tudo... o pior é quando estão viradas com a parte de dentro para cima, e depois se pisam...


Todo estes pontinhos são plásticos, beatas e lixos vários... por vezes a caminhar desenterro de sem querer mais lixo que está por baixo...


Mal encho a bolsa, venho deitar fora, fazendo a respectiva separação...





Desta vez tive direito a um chinelo e tudo... mas já apanhei camisolas, cuecas, meias, fotos de banho, ....


Por baixo do bar, onde eu não tenho acesso.... Costumo apanhar estas garrafas a flutuar ou entre as rochas, já cheguei a apanhar entre as rochas uma garrafa inteira de vidro de whisky... garrafas de vidro de litrosas, inteiras ou todas partidas, são aos montes... algumas notam-se que foram propositadamente atiradas contra as rochas...


Neste dia enchi este copo com beatas 6 vezes... a bolsa, com plásticos, perdi a conta...



«A maioria dos filtros de cigarro – a parte que parece algodão é na realidade uma forma de plástico (acetato de celulose), a sua degradabilidade no ambiente é muito lenta. Dependendo do meio, o tempo de degradação de um filtro de cigarro pode variar entre 18 meses a 10 anos. As fibras de acetato de celulose no filtro do cigarro são mais finas do que uma linha de costura e um único filtro contém mais do 12000 dessas fibras.

Os filtros dos cigarros usados estão cheios de substâncias tóxicas conhecidas como alcatrão. Estes químicos são lixiviados para a terra e linhas de água, contaminando os organismos vivos que com ele contactem. A maioria dos filtros são descartados ainda com pedaços de tabaco a ele agarrado, poluindo o ambiente com a nicotina.»


«As beatas são leves e móveis, sendo levadas pelo vento e chuva até entrarem nos circuitos de águas pluviais, por exemplo através das sarjetas. As águas pluviais que vêm das sarjetas transportando milhares de beatas não são tratadas e terminam nos rios, oceanos ou praias.

As beatas descartadas representam uma ameaça significativa para a vida nos vários ecossistemas terrestre e aquáticos não só porque os organismos as confundem com alimento ingerindo-as mas também pelos incêndios que podem originar.»


Vidros pela areia, ...


Cada vez que apanho estas coisas, lembro-me desde documentário...


«Os microplásticos são partículas com menos de 5 mm de diâmetro, que estão presentes em alguns produtos do dia-a-dia, como pasta-de-dentes, champô, gel de banho e detergentes, ou que se libertam dos pneus e das roupas de tecidos sintéticos. De cada vez que é lavado, um casaco polar liberta milhares de fibras de plástico.

Estes pequenos fragmentos vão parar ao mar através das águas residuais e da degradação de detritos de plástico maiores e já foram descobertos tanto na superfície do mar, como no oceano profundo e nos sedimentos do fundo do mar.

O cheiro do plástico quando colonizado por bactérias e algas no mar leva os peixes a confundi-los com alimento e a ingeri-los, introduzindo-os na cadeia alimentar, ...

O plástico em si mata, todos os anos, cerca de um milhão de aves marinhas, centenas de milhar de mamíferos marinhos e incontáveis peixes. Segundo a ONU, "se nada for feito e se continuarmos neste ritmo, em 2050 haverá mais restos de plásticos nos oceanos do que peixes".»


«A pandemia trouxe menos poluição atmosférica mas, às zonas costeiras têm chegado cada vez mais máscaras cirúrgicas, luvas e até viseiras, os objetos obrigatórios dos tempos de hoje. Representam não só um risco para a saúde pública mas também uma ameaça ambiental para a vida marinha.

Joe Williams, especialista em vida marinha, disse à Euronews que, desde o início da pandemia, as equipas do terreno encontraram, na praia de Brighton, vários animais como caranguejos com máscaras a bloquearem os movimentos; e até aves sem vida por terem ingerido luvas de latex


Isto eu não consigo tirar daqui...


...nem isto....



Conseguem ver o copo e pedaços de plástico e beatas, mesmo nas profundidades das rochas? Eu aqui tive de escalar umas quantas até aqui chegar...


Também já tentei e não consigo tirar isto daqui,... Há imensas coisas destas aqui que estão de tal forma enterrados e presos nas rochas, que não consigo mesmo, e já tentei IMENSO, chegando mesmo a aleijar-me, ao raspar com os dedos nas rochas...



Estes sacos que volta e meia encontro no meio das rochas estão tão enterrados, que tenho de escavar por baixo e dos lados para os tirar, a puxar rasgam-se todos e não sai tudo, tem de ser mesmo com cuidado e paciência...



«Estudo refere que as tartarugas bebés são mais sensíveis ao plástico que comem do que as adultas. Metade das que foram encontradas mortas tinham o estômago repleto de lixo. As tartarugas desempenham um papel fundamental na formação dos ecossistemas e é essencial perceber de que forma o plástico as afeta antes que desapareçam por completo.

Os ambientalistas alertam que o Mediterrâneo "corre perigo de se transformar numa armadilha plástica, com níveis recorde de poluição causada por microplásticos, que ameaçam tanto espécies marinhas como a saúde humana". Em Portugal, "os microplásticos predominam nas areias das praias, representando 72% do lixo encontrado em zonas industriais e de estuários", salienta um comunicado divulgado pela organização em Lisboa.»


Este plástico já se estava a desfazer todo, estive aqui imenso tempo para conseguir tirar aquilo tudo...


Mas lá consegui, tirei tudo, magoei-me como já é costume, raspei com o dedo grande na rocha - também só não usei as minhas luvas de protecção porque não quis, porque as tenho - e consegui deixar tudo limpo.




Mais um...


Depois de escavar para tirar os sacos, volto a tapar os buracos, não vá alguém andar por ali...


A forma como está entranhado é incrível....



E vai sendo assim... enche, despeja, enche, despeja...



Tirados dentro de água...


Tornou-se um - triste - desporto para mim, é a primeira coisa que faço mal chego à praia, aproveito que quando vou à praia, vou sempre bem cedo, normalmente 08:30 já lá estou, e com a praia vazia vou andando pelas zonas que depois vão estar com pessoas e começo por ai, e conforme elas vão chegando eu vou andando pelas zonas menos frequentadas, no meio das rochas e dentro de água...

Qual a vossa opinião sobre esta temática?

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