Opinião: Os Dias de Saturno | Paulo Moreiras


Amor, alquimia e os prazeres da mesa num maravilhoso romance de aventuras.
SINOPSE: Amor e comida são os ingredientes principais deste romance, em que o cómico e o trágico seguem lado a lado, por entre segredos, acasos e embustes, sempre na busca de quem somos. É na Lisboa do século XVIII, desmedida e faustosa, a fervilhar de vida e infestada de ratoneiros, tabernas, comédias e casas de pasto, que perambulam as personagens deste romance cheio de reviravoltas: entre elas, o poeta satírico Tomás Pinto Brandão, alfaiate dos costumes, ou o padre Rafael Bluteau, autor do Vocabulário Português e Latino; destacam-se, no entanto, o médico da corte João Curvo Semedo e o mestre cozinheiro Domingos Rodrigues, ambos secretos alquimistas e bons garfos. É certo que as suas experiências arriscadas nem sempre resultam como esperado; e agora, que o cozinheiro agoniza no leito, o seu filho adoptivo, portador de uma estranha marca de nascença, sai à procura de um velho médico e, de caminho, tropeça na rapariga dos seus sonhos... e em sarilhos.

Reflexão sobre o que a vida nos reserva de inescapável, o romance Os Dias de Saturno trata a alquimia das emoções sem nunca esquecer os prazeres da mesa. Galardoado com o Prémio Gourmand na categoria Melhor Livro de História Culinária no ano da sua publicação original, oferece-nos uma leitura realmente deliciosa e intemporal, ao estilo cuidado e imaginativo a que Paulo Moreiras já nos habituou.

Num acérrimo português característico do séc. XVIII que - infelizmente - grande parte já não se usa, foi um desafio entrar na narrativa sem o auxílio de um dicionário ao meu lado. Após as primeiras 50 páginas, comecei a habituar-me a esta nossa língua esquecida e perdi-me completamente na narrativa, no drama, nos mistérios, na arrebatadora Lisboa de tempos idos.

Aprendi uma boa dose de gramática nova - de facto, antiga, mas nova para mim. Algumas palavras comecei até a colocar em uso no dia a dia, o que me garante olhares confusos e acusações de "estar a falar caro", adoro, e adorei especialmente o vernáculo mais colorido, que tanto me apraz.




Apesar de ser uma narrativa intrincada, quando me habituei ao ritmo, fui transportada para a minha querida Lisboa daqueles tempos. Os seus cheiros, as cores, os sabores, o sol, o calor, a energia das nossas gentes, que mesmo séculos depois, perdura!

A narrativa torna-se cinematográfica, fazendo-me sentir parte da história, tal como acontece com os livros históricos do magnífico autor João Morgado.

Nesta história, somos confrontados com dramas em várias frentes: dramas de vida de diversas personagens que se entrelaçam, que divergem, que se atropelam, que se completam.

Drama com uma boa dose de deliciosa ironia, esta é uma tragédia algo Queirosiana/Shakespeariana, que verdadeiramente me encantou.

Ao usar estes links 👉🏻 Wook | Bertrand 👈🏻para comprar livros,
está a ajudar o blog e o meu projecto de doação de livros às nossas bibliotecas públicas ♥️

Comentários