Opinião: A Maldição de Rosas | Diana Pinguicha


Tudo o que Isabel de Aragão tenta comer transforma-se em flores. Só o beijo de uma Moura Encantada pode pôr fim à maldição.
SINOPSE: Uma futura rainha não se deveria apaixonar por uma mulher.

Mas o verdadeiro amor não conhece regras.

Em 1288, a fome e a peste estão a devastar o reino de Portugal. com apenas 17 anos, a princesa Isabel de Aragão quer salvar o seu povo, mas também ela está à beira da morte: vítima de uma terrível maldição, tudo o que a futura rainha tenta comer transforma-se em flores.

Às escondidas do seu noivo controlador, o rei D. Dinis, Isabel descobre a existência de uma Moura Encantada que concede desejos. Aprisionada há mais de cem anos numa pedra, ela pode ser a salvação de Isabel - e talvez até do próprio reino. em troca, tudo o que Fatyan, a Moura, lhe pede é um beijo que coloque de uma vez fim à sua penitência.

Com apenas um beijo, Fatyan é libertada. e com apenas um beijo, o amor acontece.

Neste romance de estreia arrebatador que apaixonou os norte-americanos, a autora portuguesa Diana Pinguicha oferece-nos um retelling apaixonante da lenda do milagre das rosas, que eternizou Isabel de Aragão como a Rainha Santa Isabel. Uma história única de mistério e magia, e a escolha, quase sempre impossível, entre o amor e o cumprimento do dever.

Verdade seja dita: a homossexualidade nos tempos antigos não me é desconhecida. Sempre existiu. Por exemplo: na Roma Antiga, as famosas orgias em todos os cantos, onde valia tudo. Mas em sociedades medievais de cristãos fervorosos, supersticiosos, tementes a Deus e brutalmente tementes à igreja=inquisição, como era o caso da nossa sociedade medieval, dei comigo, durante esta leitura, chocada por nunca ter considerado esta questão.

Pelo menos não no que à questão feminina - lesbianismo - diz respeito. Quanto a reis, conhecemos bem as histórias libidinosas que viveram, os escândalos, mas... e a vida íntima das nossas rainhas? Só ouvimos falar dos gastos excessivos ou intrigas a elas associadas, mas será que tivemos rainhas lésbicas que tiveram de se subjugar ante casamentos héteros combinados, em muitos casos casamentos esses que já estavam marcados ainda elas eram bebés ou mesmo antes de nascerem?

Isso é o que eu nunca tinha considerado. Não sei porquê, pois é um ponto de vista extremamente pertinente. E a vida dos plebeus também nessa situação, iletrados e supersticiosos? Ainda hoje temos países em que o castigo para a "sodomia" é a pena de morte, em pleno século XXI, é doloroso tentar sequer imaginar como seria nos tempos medievais.

Se já era mau ser hetero num casamento hetero arranjado, sendo que maioritariamente era entre mulheres jovens e homens já com alguma idade ou mesmo velhos, causadores de repulsa, e até mesmo entre homens com mulheres que não conhecia ou amavam, então, como seria para essas mulheres - ou homens - , que não se sentiam atraídos pelo sexo oposto?

Quando pensamos que o medieval não podia ter sido pior...




Sob a forma deste exuberante livro, carregado de emoção, magia, drama, com um toque de delicioso humor, ironia e crítica social, a autora Diana Pinguicha abriu a minha mente para tantas possibilidades.

Fez-me olhar de outra forma para a monarquia medieval em geral, mas em especial a nossa. Tentar compreender as entrelinhas da nossa história, através de prismas fascinantes, com um mix de fantasia e misticismo magnífico, lendas e magia dos mouros, que envolve nada mais nada menos do que duas das minhas personagens régias preferidas da nossa história: a rainha D. Isabel de Aragão "são rosas, senhor, são rosas!", rainha santa, solidária e à frente do seu tempo, e do D. Dinis I, amante das artes e letras, que instituiu a língua portuguesa como língua oficial da corte e que criou a primeira Universidade portuguesa.

É uma das leituras mais originais com que já me deparei, uma narrativa sôfrega e cheia de encanto, verdadeiramente inesquecível.
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