Opinião Filme: The Kitchen - Rainhas do Crime


Título Original: The Kitchen | Drama, Acção | 102 min | 2019 | M/16 | EUA | Elenco: Tiffany Haddish , Melissa McCarthy , Elisabeth Moss

SINOPSE: Nova Iorque, década de 1970. Claire, Kathy e Ruby são as dedicadas esposas de três mafiosos irlandeses recentemente apanhados pelo FBI. Com eles a cumprir uma pena de prisão durante pelo menos dois anos, elas ficam sem saber o que fazer. Com pouco dinheiro e incapazes de arranjar um emprego que garanta a sobrevivência das respectivas famílias, as três mulheres tentam encontrar uma alternativa. Para isso, decidem unir esforços e continuar o negócio dos maridos. Contudo, sendo mulheres num mundo dominado por homens, elas vão ter de endurecer os seus corações e mostrar de que material são feitas. Uma comédia de acção que marca a estreia em realização de Andrea Berloff e que se inspira na novela gráfica homónima da autoria de Ollie Masters e Ming Doyle - publicada pela Vertigo (editora da DC Comics, mais direccionada para o público adulto). Com as actrizes Melissa McCarthy, Tiffany Haddish e Elisabeth Moss como protagonistas, este filme conta também com as actuações de Domhnall Gleeson, James Badge Dale, Brian d'Arcy James, Margo Martindale, Common e Bill Camp. 

Já James Brown cantava: "It's A Man's Man's Man's World", e porque é que tem de ser assim? Quem o decidiu? 

Apesar de no último meio século o direito das mulheres ter evoluído sobremaneira, ainda falta percorrer uma longuíssima estrada atribulada até haver o mínimo de verdadeira igualdade e justiça.

E se o caminho tem sido longo e compensatório em certas partes do mundo, noutras partes, noutros continentes - África, Arábia, Índia,.... - , as mulheres ainda são consideradas coisas, propriedade, um artigo, um bem, uma posse, uma moeda de troca, segunda categoria, escravas, máquinas para ter filhos e empregadas gratuitas para cuidar da casa e nada mais. E alguns desses países são supostamente bastante evoluídos: económica e tecnologicamente, no entanto, a nível de misoginia, o retrocesso é medieval.

Relativamente à realidade deste filme:

«O sonho americano, que tem origem na Declaração de Independência dos EUA, afirma que todos os homens são criados iguais e têm direito à vida, à liberdade, à igualdade e à busca da felicidade.»

Mas isto só é válido literalmente para "os homens", e mesmo assim apenas contam os homens heterossexuais e caucasianos, não é verdade? O sonho americano foi desde sempre uma ilusão.

Este filme retrata muitíssimo bem a realidade, não muito distante - e em muitos aspectos atual - do que é que mulheres indiretamente ligadas à máfia e ao mundo do crime, devido aos seus casamentos, têm de fazer para sobreviver num mundo dominado pelos homens. Um mundo mafioso, misógino, racista, perigoso, violento, numa Nova York dos anos 70, terra da suposta liberdade e igualdade que não existe.

Uma das três esposas, Claire, já sofre por ser mulher, mas ainda mais por ser negra. Se já as caucasianas são descriminadas, ela é duplamente desconsiderada, sofrendo diariamente de segregação, traição e misoginia.

Ruby é vítima de violência doméstica, abusada desde que se lembra, mas amiga, solidária e com coração de ouro, até ao dia em que diz basta.

Kathy é uma mulher forte e inteligente, num mundo que não vê o seu valor.

TRAILER

Esta é a história de uma sociedade em recessão. 

Pobreza, racismo, misoginia, desigualdade, abuso de poder, ganância, extrema violência, muito drama, um toque de comédia, mas acima de tudo uma história feminina pela luta por uma vida melhor e mais justa. Uma retratação sobre aquilo em que a sociedade transforma aqueles que apenas tentam ultrapassar as injustiças, para terem o mínimo de dignidade e serem alguém, mantendo a si próprios, os filhos e família alimentados, felizes e em segurança.

A banda sonora é fantástica, com excelentes atores e interpretações, adorei as roupas da época, o ambiente, a fotografia, é na minha opinião um filme muito bem conseguido.

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