Opinião: A guardiã de histórias | Sally Page

SINOPSE: Todos temos uma história para contar.
Mas nem todos temos a coragem de a partilhar...
Janice, empregada de limpeza, sabe que é através das histórias que as pessoas nos contam que as conhecemos verdadeiramente.
Quando começa a trabalhar para a Sra. B – uma mulher astuta de 92 anos –, Janice encontra, finalmente, alguém que quer conhecê-la a sério.
Mas Janice não se deixa enganar: coleciona as histórias dos outros, mas não quer revelar a sua. Porque nela se esconde um segredo que não está preparada para partilhar.
Mas a Sra. B é muito perspicaz e sente que a mulher que lhe limpa a casa tem muito que se lhe diga.
Afinal, todos temos uma história para contar, certo?
Um romance comovente e um sucesso instantâneo de vendas em todo o mundo.

Conhecem aquele sentimento de puro agradecimento quando um livro vos vem parar às mãos, e quando começam a leitura sentem que era precisamente aquele livro que precisavam de ler naquele preciso momento? Uma espécie de serendipidade literária....?

Foi exatamente isso o que aconteceu com este livro, e felizmente volta e meia surgem-me estas benesses, tanto que este blog nasceu graças a uma situação dessas.

Esta é a leitura que eu estava a precisar neste momento, foi uma leitura que me aqueceu o coração, que me fez tão boa companhia, num par de dias particularmente stressantes e desmotivadores, esta leitura conseguiu fazer com que, nos minutos ou horas em que estava perdida nas suas páginas, caia no abençoado esquecimento da instabilidade em que está a minha vida, deu-me esperança, fez-me sentir compreendida... e muito importante, fez-me sorrir e rir!

É uma narrativa rica em personagens, adorei imenso algumas, detestei profundamente outras, cada uma com uma personalidade muito própria, realista, tanto que sentimos que as conhecemos, pois parecem-se com os nossos vizinhos, colegas de trabalho, conhecidos..., algumas são apenas uma curta passagem, uma breve narrativa, todos nós temos, ouvimos e colecionamos histórias assim, mesmo sem nos darmos conta, de pessoas que passam pela nossa vida, que se cruzam connosco, directa ou indirectamente ...

Pois esta história é sobre alguém que colecciona histórias de vida, por pensar que as histórias dos outros são melhores do que a sua. São histórias dentro de histórias que se completam, tudo numa fluidez divertida, dramática, cativante, e mais importante: tudo inspirado em histórias reais que a própria autora foi colecionando, para criar estas personagens e esta maravilhosa aventura.

As duas personagens principais - as que mais vão revolucionar a vida de todos à sua volta - são: a Janice, uma empregada de limpeza em casas particulares, que se desvaloriza tremendamente, com um casamento infeliz e um passado de pesadelo, que se submete à infelicidade, por julgar que não merece melhor, e que faz as suas rondas de limpeza apanhando transportes públicos, neste caso, autocarros e a mirabolante idosa, uma verdadeira lady, esquecida pela sociedade, a sra. B.

Quem segue o meu blog há algum tempo sabe como AMO histórias com velhotes - se este livro já estava bom, ficou ainda melhor (!) - idosa essa de 92 anos que é nada mais, nada menos do que uma ex-espia da segunda guerra mundial, com muita personalidade, ambição, coragem, e um feitiozinho....!

Não só amei o contraste de idades, tanto delas duas como entre as várias personagens aqui presentes, como também o contraste de posições sociais, tão, mas tão realista, tão intrinsecamente humano...




Já li tantos livros, tantas personagens de todas as faixas etárias, etnias e classes sociais, mas nunca li nenhum livro tão pessoalmente íntimo, humano e realista sobre a vida de uma "simples" - como é considerada por muitos, não só nesta narrativa, mas na vida real - contemporânea empregada de limpeza.

Porque a nossa sociedade é assim: avalia o valor de uma pessoa, não por aquilo que ela é, mas por aquilo que exerce. Até mesmo naqueles exercícios irritantes de filosofia, tipo: só podem meter x de pessoas num bunker, quem escolheriam? Entre um banqueiro e uma empregada de limpeza, quem acham que escolheriam? Entre uma dona de casa ou uma caixa de loja? Uma pessoa sente mais orgulho em dizer que é administrativa ou empregada de limpeza? Ou dizer que é advogada em vez de dizer que é administrativa? Em dizer que é médica ou bombeira? E então em Portugal, a terra dos "srs. doutores, srs. engenheiros, senhores isto e aquilo", .... esta pressão é esmagadora. E eu sinto-a, demasiado.

Por essas e outras adorei tanto, mas tanto este livro: senti-me tão compreendida, tão acompanhada, amparada, divertiu-me, enterneceu-me, entristeceu-me e no final, encheu-me de esperança.

Absolutamente adorável.
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