Opinião: Ressurrecta | Vic Echegoyen

1755. Lisboa treme. O mais fascinante acontecimento do século XVIII, contado minuto a minuto, num romance coral, vibrante, sensorial e humano.
SINOPSE: Lisboa, 1755.

O Dia de Todos os Santos amanhece ensolarado e festivo. Nada faz prever que uma série de terremotos de uma intensidade nunca vista destruirá igrejas e palácios. O tsunami que os segue, juntamente com o apocalíptico incêndio subsequente, transformará a festa em tragédia para o rei e a sua corte, mas também para galés e prostitutas, monges, damas, cirurgiões, soldados, marinheiros e até mesmo para um pequeno macaco.

História coral e vibrante, mas, ao mesmo tempo, humana, Resurrecta narra, minuto a minuto, as seis catastróficas horas que transformaram a História de Europa.

Um romance que atinge o coração do leitor sob a aparência de desordem e horror, através de um mosaico das emoções das suas personagens: da responsabilidade do ministro do rei à sede de vingança do réu; do médico assoberbado à jovem que arrisca a própria vida para salvar o seu amado; do castrato que canta para as vítimas até à freira que foge do convento para as socorrer. Todos eles serão os pilares da nova Lisboa ressuscitada dos seus escombros.

Preparem-se, que este é um daqueles livros que causa ressacas literárias. Antes eu não lia romances históricos da história de Portugal escritos por autores estrangeiros, creio que seria por pensar que nunca seriam capazes de captar o espírito português, mas tenho confirmado que esse julgamento está errado e não só captam bem a nossa história, como captam maravilhosamente o nosso espírito e essência, e talvez precisamente por se terem de esforçar o dobro, triplo para o fazer, consigam captar de forma tão vívida e honesta quem somos, de forma a que nos faz refletir sobre a nossa verdadeira essência, como se de um espelho que nos é repentinamente colocado à nossa frente se tratasse, e assim temos oportunidade de nos vermos com outros olhos,  ver por outro prisma...  e é fascinante!

E a autora Vic Echegoyen sem dúvida que conseguiu isto e muito mais! Fez-me sentir ainda mais apaixonada por Lisboa do que aquilo que já sou. Sou alfacinha de gema, nascida e criada, mas já estive afastada vários anos da minha Lisboa, sendo que todo esse tempo senti que como se faltasse uma parte essencial de mim, tal é este amor que lhe tenho e que quase não cabe dentro de mim, faço parte de Lisboa, Lisboa faz parte de quem eu sou: eu sou Lisboa. Tal como todos os que a amam.

Amar Lisboa é sentir saudades dela, estando nela. Saudade... uma palavra tão nossa...

Sinto uma especial atração por esta parte da história de Lisboa, o desastre de 1755. Tenho uma profunda admiração pelo Marquês de Pombal, sempre me lembro de ter, não sei o motivo. Já o sentia antes de ler livros específicos sobre a sua vida, sobre esta parte da nossa história, que me lembre nem nunca sequer foi disciplina na minha escola, mas sempre me senti ligada e fascinada por ele.

Ainda mais perdidamente fascinada fiquei depois de ler o livro "Quando Lisboa Tremeu" do autor nacional Domingos Amaral, entre outros livros que depois li e aqui falarei no blog. Mas agora, mais do que nunca, depois da leitura deste «Ressurrecta» que me arrebatou, abalou, desmanchou, sufocou, me fez sentir desesperada, fez-me sentir que vivi aquele maldito dia, minuto a minuto, mas apesar de tudo fez-me sentir tão orgulhosa de ser lisboeta, fez-me sentir esperançosa para com o nosso país e a sua história futura, fez-me ter fé na garra do nosso povo, e me fez adorar ainda mais incondicionalmente esta magnífica pessoa que foi Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal e Conde de Oeiras.

Estou-lhe eternamente grata por nunca ter desistido de Lisboa, apesar de todas as contrariedades, desfaçatez da corte e de no final por ter sido traído injustamente de todas as formas possíveis e imaginárias, pela sua coragem e forma de ser. Quanto à autora: estou-lhe eternamente grata pela forma soberba e fiel, histórica e linguisticamente, como captou - minuto a minuto - realista, vívida e intensamente, este dia que mudou Lisboa, mudou Portugal, mudou o mundo....





Numa escrita despretensiosa, brutalmente honesta, cinematográfica, com um toque de ironia, acompanhamos os minutos mais intensos deste dia maldito, minuto a minuto, cada minuto que vai passando conta a história de vida de várias personagens - entre elas o meu adorado Marquês de Pombal - freiras, prisioneiros, guardas, famílias diversas, pobres e ricos, novos, velhos, e até o ponto de vista da história de um macaquinho de estimação... o nome dos locais, das ruas, conhecendo essas ruas e locais melhor do que me conheço a mim própria, é impossível ler e não ser imediatamente transportada para lá.... nesse sentido é algo parecido ao livro do Domingos Amaral, em que também acompanhamos o acontecimento em várias frentes, numa perspectiva de panorâmica de 360 graus, de diversas personagens, umas reais, outras imaginárias, que através da intensidade da escrita essas personagens ficam connosco para sempre, vivendo assim em nós, na nossa memória.

Absolutamente arrebatador!

👉🏻 Wook | Bertrand 👈🏻

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