Opinião: O Cavaleiro Lua Cheia | Susanna Tamaro
SINOPSE: Naquela casa estranhos desaparecimentos de comida acontecem sem que se saiba quem é o seu autor. Até que um dia a mãe do Miguel se apercebe de quão anafado está o seu filhote. O mistério desvenda-se e o Miguel passa a frequentar a Clínica Estica Larica da qual foge após algum tempo. É durante essa fuga que conhece um estranho inventor que o fará viver uma grande aventura da qual ele será o grande herói. Não tivesse o Miguel a sua carita em formato de Lua-Cheia... Depois de Um Lugar Mágico, também integrado na colecção Estrela do Mar, a autora do bestseller mundial Vai Aonde Te Leva o Coração, surge com mais um divertido e imaginativo livro dedicado aos leitores mais jovens.
Bem... de todos os livros juvenis da Susanna Tamaro que já li, este é o mais estrambólico de todos. Fiquei até sem saber muito bem qual a lição de moral a tirar daqui, que é tão óbvia nos outros livros da autora, e neste livro a lição final - se é que há definitivamente alguma - é algo estranha, e até mesmo perigosa ...
Por exemplo: o Miguel, a personagem principal, é uma criança pré-adolescente, que é viciado em comer.... especialmente quando se sente infeliz, agarra-se a toda a comida a que deita a mão. Considera que o seu melhor amigo no mundo é o frigorífico. Não tem amigos e dá-se muito mal com os pais. Ou seja... é muito infeliz e está sempre a comer!
Depois, quando visita a avó, a avó ignora as ordens da mãe do Miguel e ainda mais comida dá ao rapaz, ainda por cima na sua maioria doces e bolos, e a narrativa dá a entender que quase não faz mal ele ser obeso, que coma o que quiser, o que importa é ser feliz, e que as pessoas que só pensam em ser magras é que são doentes da cabeça. Eu não concordo com esta premissa. A obesidade e a anorexia são ambos extremamente perigosos, a nível físico e psicológico.
Uma coisa é sermos felizes com o nosso corpo, uns pneus a mais que é pura questão de estética é uma coisa, outra coisa é termos problemas sérios de saúde associados à obesidade, que é um assunto muito sério, especialmente a obesidade infantil, e acho que a autora - por algum motivo que me está a escapar - baseou o enredo da história em torno da obesidade infantil de uma forma extremamente leviana.
Será que fui eu que percebi mal o objectivo da história? É que mesmo o desfecho final é contraproducente...
E depois: temos um enredo com uma fantasia mirabolante, que mete electrodomésticos a falar, latas e sacos de plástico a falar, um cientista "louco", animais também eles falantes e com grandes pancas, o lado humorístico do enredo que vai fazer as delícias dos mais novos, aventuras nas profundezas do oceano um bocado violentas,... é do mais estrambólico que já li na vida, e por isso sei que os mais novos vão delirar com a originalidade do enredo, só não concordo com esta ambiguidade no que à obesidade infantil diz respeito.
Talvez haja aqui uma mensagem subliminar que eu, no alto da minha condição de adulta, não esteja a captar, e a autora tenha construído o enredo de forma a que as crianças achem que serem obesas e comerem toda a porcaria que queiram só vai trazer problemas e não é bom, apesar de não ser isso que dá a entender durante a aventura, e eu esteja simplesmente a analisar de uma forma demasiado adulta, quem sabe.
Adoraria ter lido em criança para comparar o que teria achado na altura com o que acho agora, mas continuo super motivada para ler tudo o que eu puder desta fabulosa autora, e tenho a certeza que os mais jovens vão delirar com esta aventura estrambólica, carregada de aventura e humor.
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