Opinião: Encontrar o Amor em Auschwitz | Francesca Paci

O relato dramático e comovente da união de Mala e Edek
SINOPSE: Uma história de coragem e de esperança
A história real, mas injustamente esquecida, de um prisioneiro polaco e de uma judia que se apaixonaram no campo de extermínio de Auschwitz é aqui reconstruída pela jornalista Francesca Paci, tendo por base os arquivos do Museu de Auschwitz, bem como documentos da época e relatos das já poucas testemunhas deste amor.
Mala Zimetbaum é carismática, culta e altruísta, dando provas disso ao ajudar as suas companheiras de infortúnio. Edek Galinski é um indivíduo extraordinário: um dos primeiros deportados para Auschwitz-Birkenau, preso menos de dois meses após a abertura do campo de concentração, vê a máquina de genocídio nascer e crescer, mas nunca se deixa vergar.
Um dia, os seus caminhos cruzam-se no campo e o amor nasce, assim como a esperança de uma vida em comum. É então que, a 24 de Junho de 1944, Mala e Edek conseguem fugir ao inferno e viver alguns dias de preciosa liberdade.
Este relato de um conto de fadas, «sem final feliz, como às vezes acontece com os verdadeiros contos de fadas», dá a conhecer uma comovente história inexplicavelmente perdida no tempo.

Foi neste filme «Playing for Time» que fiquei a conhecer - muito pouco, quase nada - o casal Mala e Edek, e por algum motivo fiquei imediatamente cativada por este casal de resistentes, que se conheceram e apaixonaram em Auschwitz, ambos muito misteriosos.

Depois, volta e meia, em alguns livros sobre o Holocausto que vou lendo voltei a vê-los mencionados e fiquei cheia de curiosidade em saber mais, mas com as minhas pesquisas básicas, pouco deu para ficar a saber. Até que vi esta novidade da Vogais Editora  e nem quis acreditar! Um livro inteiro sobre eles os dois!

Se bem que, tenho a dizer: a escolha da capa e do título não é dos melhores, nem pouco mais ou menos. 

Dá a entender que é uma história romanceada lamechas, e este livro nem sequer é um romance - é uma investigação jornalística biográfica. A extrema capacidade de adaptação humana faz com que até nas condições mais deploráveis consigamos sobreviver apenas com o nosso instinto de sobrevivência e resiliência, e também, se assim estiver destinado, a encontrar o amor mesmo nos quintos dos infernos, mas há centenas de alternativas para este titulo, além de que os livros com título "Auschwitz" já começam a ser um exagero, e faz com que se esteja a banalizar esta temática...

E para algumas pessoas com quem falei sobre este livro houve até quem tenha considerado o título ofensivo, como se entre tantos "de/em Auschwitz" fizessem parecer com que aquele campo de extermínio fosse uma espécie de campo de férias, que agora até serve para encontrar o amor... eu não tenho um sentimento assim tão pungente sobre esta questão, mas concordo que já começa a ser demais, com tantas, mas tantas alternativas para títulos e capas disponíveis.

Voltando ao livro em si, eis a Mala e o Edek:


É uma sorte existir as fotos deles, mas fora isso, pouco mais sobrou... As pessoas que os conhecerem ou morreram na altura, pouco depois ou na altura em que esta investigação pela autora Francesca Paci já não existiam, ou a autora não os encontrou.




Portanto, ao contrário do que eu estava à espera - uma avalanche de informação sobre este casal corajoso e misterioso - a autora o que mais conseguiu foi informações sobre as suas vidas antes das suas capturas, quando ainda não se conheciam, pois até sobre as suas mortes existem versões diferentes. 

Sobre o que eu queria mesmo saber: como se conheceram, os seus actos de resistência em Auschwitz, os momentos que passaram juntos,... a autora pouco conseguiu saber, mas nota-se o esforço hercúleo da autora para descobrir tudo quanto podia. 

A autora até menciona livros escritos por sobreviventes que mencionam o casal - e pelo menos três desses livros ainda tenho por ler cá em casa e outros já li -, mas lá está: também esses autores sobreviventes pouco sabiam sobre o casal, alguns nem sequer os conheceram pessoalmente e o que mais sabiam eram boatos e o diz-que-disse...

Não só muita informação desapareceu quando as SS começaram a destruir os campos de concertação - especialmente Auschwitz, o maior campo de extermínio de todos -, como a Mala e o Edek já de si eram extremamente reservados, portanto tudo o que a autora conseguiu reunir a ferros mostra uma persistência incrível, e é de louvar.

Já a sua capacidade narrativa jornalística por vezes fazia com que eu perdesse a minha capacidade de concertação: a autora repete-se e divaga um bocado, mas gostei que preenchesse os vazios de informação de que não dispõe com outras histórias de quem pelo holocausto passou, as entrevistas que fez a sobreviventes, outras histórias de vida além da Mala e do Edek, a forma intrínseca como as vidas de tantos que passaram por Auschwitz se interligam nos relatos que finalmente começam a surgir ou a ser traduzidos em Portugal, a autora também fala da guerra em si e do que teve de fazer e até onde teve de ir para obter toda a informação para a realização deste livro.

De louvar!
👉🏻 Wook | Bertrand 👈🏻

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