Opinião: A Memória da Árvore | Tina Vallès
SINOPSE: Posso ficar contente? Jan não sabe porquê, mas intui que não é uma notícia muito boa que agora passem a ser cinco em casa. Os avós Joan e Caterina deixaram Vilaverd e vieram instalar-se com eles no andar do bairro de Sant Antoni, em Barcelona. Esta mudança alterará o dia a dia em casa, onde as palavras e os silêncios adquirirão novos significados. Mas Jan e Joan têm o seu mundo, cheio de passeios, árvores e letras com mais significado do que parece.Entretanto, os adultos fazem o possível para que tudo continue como sempre. Jan repara nos pormenores à sua volta e vai juntando-os para perceber o que se passa. As conversas entre avô e neto, com perguntas sem resposta e respostas sem pergunta, constroem um mosaico de cenas por onde avança a relação entre os dois, e a história de um salgueiro-chorão será o seu fio condutor.A Memória da Árvore é um romance terno, construído de forma inteligente, que consegue colocar o leitor na pele de uma criança e que fala da transmissão de memórias, de como estas são fabricadas e conservadas, de onde se guardam e de como se podem perder.Um livro notável, que representa também a confirmação do talento da escritora Tina Vallès.
Este é daqueles pequenos-grandes livros, que mais se assemelham a uma fábula, e que ficam guardados num cantinho querido do nosso coração para sempre. O avô de Jan, que ele adora, parece estar cada vez mais perdido e desorientado, está a perder a sua genica habitual, que Jan adora, e Jan não entende bem o que está a acontecer... a família tenta abafar os acontecimentos para que ele não se dê conta, mas Jan é um rapaz esperto...
Esta mania que os adultos têm de não tratarem as crianças como seres capazes de lidar com as adversidades, querem estupidifica-los, por vezes com a desculpa de os estarem a poupar, ao invés de os ensinarem desde cedo as questões básicas e importantes da vida... as crianças não vão deixar de ser menos crianças por começarem a compreender o que acontece à sua volta! Ainda me lembro bem da revolta que eu sentia ao sentir-me constantemente menosprezada e afastada das conversas importantes dos adultos, como se eu, os meus sentimentos e opinião de nada valessem...
É um livro carregado de introspectividade, e que aborda de uma forma muito terna e original as questões sentimentais e consequências do alzheimer, não só para o doente, como para os familiares e amigos próximos, quando uma pessoa que amamos muito começa a deixar de nos reconhecer, e nós deixamos de a reconhecer a ela... quando tudo se desfragmenta, e a saudade aperta, mesmo estando ao lado dessa pessoa...
Lindo, emotivo e carregadíssimo de introspecção.
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