Opinião: A Estrada do Tabaco | Erskine Caldwell
O humor de Caldwell, como o de Mark Twain, tem como fonte a imaginação que agita as emoções do leitor
Plano Nacional de Leitura - Livro recomendado para Ensino Secundário
SINOPSE: Durante a Grande Depressão americana, a família Lester não sabe como sobreviver à miséria que se avizinha. Residem e gerem os territórios rurais da Geórgia, cultivados com tabaco e algodão, mas já nem isso os salva. Debilitados pela pobreza ao ponto de atingirem um estado de ignorância e egoísmo cruel, os Lesters preocupam-se com a fome, os apetites sexuais que os devoram e o medo de que a hierarquia social os empurre para uma camada ainda mais desfavorecida.
A pobreza, o racismo e a bestialidade dos homens são aqui postas a nu, despindo a sociedade americana dos anos 20 com crueza e violência, numa tragicomédia de mestre. A Estrada do Tabaco é um dos grandes clássicos americanos de Erskine Caldwell.
Já leram alguma história de uma família que é tão pobre, tão pobre, que nem sequer pode ser considerada pobre, demasiado pobre para ser chamada de pobre, algo abaixo da pobreza? Abaixo da miséria, por incrível que pareça?... juntamos a isso uma boa dose de ignorância, analfabetismo, preguiça, estupidez, extremismo religioso, ganância, fome, crueldade, racismo.... bem vindos à América dos anos 20, nos locais isolados, afastados das grandes cidades, conheçam a família Lester, que incarna tudo o que foi acima referido e ainda mais!
Neste livro, vemos como os tempos estão a mudar, a revolução industrial a dar passos gigantes, a Grande Depressão após uma Grande Guerra Mundial como nunca antes vista, e como os que sempre viveram, desde incontáveis gerações, dos campos, das colheitas (neste caso de algodão e tabaco), se estão a ver obrigados a abandonar tudo aquilo que sempre conheceram e tomaram como garantido para partir para as grandes cidades... abandonar os campos, o ar puro, o viver em sintonia com a natureza, para se enfiarem em fábricas barulhentas, sem ver a luz do sol, o dia todo, em troca de meia dúzia de tostões.... adeus, sonho americano!
Escrito num tom sarcástico, dramático, violento, intenso, realista, cru, repetitivo, mas de certa forma fascinante, é um livro que prende na leitura pela sua crueza e miséria.... com cenas hilariantes pela sua incrível estupidez e outras cenas profundamente revoltantes e cruéis, sabendo que estas situações aconteceram mesmo, esta miséria e negligência foi sentida e praticada por incontáveis famílias nestes tempos, é arrepiante e no entanto, em parte, fascinante - de um modo chocante - o quão degradante os humanos conseguem ser...
Publicado em 1932, retrata bem os tempos de crise que ainda vivemos...
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