Opinião: O Dia em Que Te Perdi | Lesley Pearse

SINOPSE: Na noite em que a mãe lhes foi arrancada, os gémeos Maisy e Duncan perceberam que só podiam contar um com o outro. Se até então a vida deles não fora fácil, a partir desse momento piora dramaticamente pois o pai decide enviá-los para casa da avó, a ríspida Violet.
Os gémeos sentem-se mais abandonados do que nunca. Mas a negligência da avó tem um lado positivo: Maisy e Duncan passam a desfrutar de uma liberdade inesperada e podem explorar o campo e fazer novas amizades sem terem de se justificar a ninguém. Até ao dia em que Duncan desaparece sem deixar rasto.
À medida que os dias dão lugar a semanas, perante a ineficácia da polícia e a indiferença da avó, Maisy decide descobrir por si própria o que aconteceu à única pessoa que verdadeiramente ama. E vai começar por Grace Deville, a excêntrica amiga do irmão. Grace vive isolada na floresta... e tem segredos por revelar…
O Dia em Que Te Perdi explora ternamente temas delicados e atuais. Lesley Pearse, uma contadora de histórias nata, fala-nos de perda, de esperança, de força interior, e dos inquebráveis laços de família.

Quem segue aqui o blog sabe que a Lesley Pearse é a minha autora preferida de sempre, e quando este livro me chegou às mãos até o abracei... Ainda não tive oportunidade de ler o anterior a este, e por isso já não lia nada novo dela há uns tempos.

Com a sua escrita fluída e viciante, mais uma vez aborda, de uma forma brutal e sem filtros, temas muito traumáticos e realistas... 

A capa chega a ser de uma doçura desconcertante, tendo em consideração que este livro aborda a pedofilia...

Apesar de eu ainda não me ter habituado a ler as histórias contemporâneas desta autora, talvez por ter lido todos os seus romances vitorianos de uma assentada, e quando comecei a ler livros em que aborda épocas mais recentes, senti-me algo "deslocada"... Não é que a escrita diferencie assim tanto, a essência está lá, mas sinto que falta "algo"...

O que eu tenho reparado nestas histórias de tempos mais recentes, é que as personagens femininas parece que perdem a sua garra tremenda e apesar de passarem por situações traumáticas, não é da mesma forma que as órfãs vitorianas da Lesley, a que eu estou habituada passam e lutam e se aguentam de formas verdadeiramente heróicas e inspiradoras!, ...

No entanto, não haja nunca dúvidas de que a escrita desta autora é arrebatadora, de tirar o fôlego e com descrições tão brutais que até nos conseguem dar a volta ao estômago, mas mais importante, nos fazer pensar e reflectir sobre duras realidades que, ou não temos conhecimento, ou preferimos ignorar...

A personagem de que mais gostei foi sem dúvida de Grace, e a Lesley consegue impressionar-me sempre e surpreender-me, e deixar-me irrequieta e sem descanso até terminar o livro, e ficar a conhecer toda a história e os factos.

Uma leitura para estômagos fortes, sobre um tema muito delicado e demasiado corrente, mas também sobre o amor fraternal, coragem e vontade de viver, sobre a injustiça de marginalizar quem é diferente, a importância da família, seja a de sangue ou daqueles que se tornam nossa família, por serem mais família para nós do que aqueles que o são de sangue... persistência e desespero, este é um livro que arrepia a espinha e abre consciências para uma bruta realidade no mundo e na sociedade...

👉🏻 Wook | Bertrand 👈🏻