Opinião: Violência, Bullying e Delinquência | Margarida Matos
SINOPSE: A Escola aparece-nos como um contexto muito particular, comum a todos os cidadãos no decorrer do seu desenvolvimento e onde, fruto de vários desafios nas relações interpessoais, a questão da violência interpessoal assume algum protagonismo e acarreta alguma preocupação pública. Pretendemos de forma breve e sucinta sensibilizar alunos, pais, educadores e professores para o Bullying/violência entre pares. Este termo tem vindo a ser incorporado na linguagem do quotidiano: escutamos esta palavra na televisão, na rádio, lemos nos jornais, ouvimos na rua, em casa, na escola e no emprego. Se por um lado esta popularidade, chamando a atenção para o fenómeno, pode ajudar a identificá-lo e a evitá-lo, por outro lado corremos o risco de ficar a pensar que é um fenómeno recente nas nossas escolas e em geral nas nossas vidas, quando de algum modo é um nome novo para um fenómeno que vem mesmo provavelmente da origem da espécie humana, e que se inscreve globalmente na dificuldade de regular relações interpessoais, numa perspectiva de ganho mútuo.
Margarida Gaspar de Matos
Quem aqui já sofreu de algum tipo de violência, bullying ou delinquência, levante a mão.
*Levanto a mão*
E não me refiro apenas ao bullying na escola, o qual sofri alguns anos. Mas também fora da escola, a nível profissional. Nesse aspecto envolveu violência e até violações dos direitos humanos e tortura. Mas isso é outra história. São muitas as coisas que já passei e que estou a tentar superar, um dia de cada vez.
Por isso este livro me chamou tanto a atenção. Está a haver (finalmente!), de à uns tempos para cá muita divulgação e campanhas anti-bullying, no entanto só é pena darem 98% de todo o destaque do anti-bullying vai para as escolas, mas esquecem-se que fora delas também o há. Temos também o exemplo de violência psicológica e assédio nos empregos. Os maus tratos aos idosos pela família ou nos lares. Os maus tratos a bebés e crianças por amas e professores de creche e infantários. A violência doméstica.... São demasiados exemplos, todos eles infelizes, e todos eles por todo o lado. São as pessoas que fazem o mal, são as pessoas que podem mudar o mal que fazem.
No entanto estar a começar pelas escolas é muito bom. Na altura pior da minha vida como estudante, onde o bullying chegou a vários extremos, incluindo violência, espancamento, roubo, humilhações em público, havia professores e funcionários da escola a passarem, literalmente, ao lado, a verem tudo e nada fazerem. Havia também quem fizesse algo para defender e depois passava a ser vitima também. E havia ainda professores que eles próprios eram os bullers ou bullies (quem provoca/faz o bullying). Um exemplo desses na minha vida foi um professor de matemática que me agredia, humilhava brutalmente e incentivava os outros a fazerem o mesmo a mim (e a outros!). Um dia rebentei, não aguentei mais e sem pensar atirei-lhe com uma cadeira. Tenham noção de que eu tinha apenas 9/10 anos e o gajo era um homem feito de meia idade. Primeiro ele devia de ter juízo, e depois imaginem o que teve de fazer para levar uma criança tão pequena e lingrinhas a conseguir dominá-lo! E eu antes de ir para aquela escola, quando andava num externato, eu era (e quem me conhece nunca na vida diria), muito mimada, muito amiga, muito carinhosa, muito social, muito brincalhona, muito divertida, inocente, influenciável e muito "marrona". Tudo o que os bullers gostam mais...
Depois de finalmente reportada esta situação, e de os meus pais terem de ir ver o que se passava, ele passou a ignorar-me completamente a deixar de nos atirar com apagadores e livros e de humilhar, simplesmente ignorava-nos, o que passou a ser muito melhor, mas no entanto eu ganhei cisma tal, um ódio enorme aquele homem e a tudo o que ele representava, inclusive a matemática que eu adorava e mais, eu era uma aluna BRILHANTE a matemática, e depois disso, que foi no 5º ou 6º ano, nunca mais consegui dar-me com essa disciplina, o que se reflecte até nos dias de hoje...
Nunca mais passei a essa disciplina, mesmo com outros professores.
Depois de finalmente reportada esta situação, e de os meus pais terem de ir ver o que se passava, ele passou a ignorar-me completamente a deixar de nos atirar com apagadores e livros e de humilhar, simplesmente ignorava-nos, o que passou a ser muito melhor, mas no entanto eu ganhei cisma tal, um ódio enorme aquele homem e a tudo o que ele representava, inclusive a matemática que eu adorava e mais, eu era uma aluna BRILHANTE a matemática, e depois disso, que foi no 5º ou 6º ano, nunca mais consegui dar-me com essa disciplina, o que se reflecte até nos dias de hoje...
Nunca mais passei a essa disciplina, mesmo com outros professores.
Tanto que apesar de TODOS os problemas que eu tive na escola, esse que relatei e que foi a única vez que me virei a professor, o envolver-me em lutas no recreio, entre outros contactos agressivos com bullers, tanto alunos como professores, eu NUNCA, NUNCA na minha vida fui expulsa da escola, nem sequer suspensa! NUNCA! E isso, onde eu vivia e estudava, era o prato do dia e todas as pessoas que eu conhecia já tinham sido expulsas ou suspensas nem que fosse um dia.
Levei castigos sim, trabalhos extras, etc... Mas o que eu quero dizer é que, das vezes que isso aconteceu, das vezes que eu me defendi, foram por motivos tão fortes, que a razão acabou sempre por ficar ao meu lado, tal como a legítima defesa...
E também tinha uns pais que, quando começaram a saber das coisas, iam pessoalmente à escola e juravam, e faziam, que se me voltassem a tocar, especialmente os professores, que eles mesmos tomariam conta da situação pessoalmente, com o dito professor ou professora.
E isto até mesmo quando eu andei no secundário! Claro que quando eu me tornei adolescente só acontecia à primeira, porque eu NUNCA na minha vida fui buller ou fiz o que me faziam a mim, mas sempre me defendi se tinha de ser, nem que tivesse de usar a violência. Ou era eu ou eles.
Outro foi um professor de T.I.C que a minha mãe entrou pela escola a dentro, depois de saber a forma como nos humilhava, e à frente de toda a gente o ameaçou e lhe disse as verdades na cara, à frente da escola toda, ele que voltasse a fazer fosse o que fosse a mim ou a outro aluno qualquer, ele que se atrevesse. Director da escola, tudo o que lá estava, ouviu. Houve até um dia numa reunião de pais com uma directora de turma velhaca que eu tive em que foram os meus pais a se levantarem e a saírem de lá ofendidos e fizeram queixa da dita professora (ao tempo que eu me queixava!!), pela forma como ela tratava e falava dos alunos. Como eu vos disse anteriormente, até à idade adulta sempre fui lingrinhas e pálida, mas faz parte de mim, e essa professora perguntou à frente dos outros pais todos, na reunião, se os meus pais me davam de comer, porque eu tinha ar de esfomeada.
Assunto esse muito sério que na minha família nunca se brinca. Os meus pais, pais deles, pais deles e antes deles nuca fomos ricos, e houve tempos, como agora, em que passávamos algumas dificuldades. Mas curiosamente nesse tempo, em que eu andei no secundário foram os melhores tempos que tivemos e até vivíamos bem. Garantidamente que nesse tempo fome eu não passava.
Claro que não se ficou só a conhecer essa história na reunião, depois TODA a gente da escola sabia o que tinha acontecido, mas não. Não sofri de bullying por causa disso, o secundário, os dois anos que lá passei foram os melhores anos de estudante que tive. Pelo contrário, os meus colegas acharam os meus pais muito fixes por fazerem frente aos professores, me defenderem, apesar de dizerem "castiguem-na sim, mas só se ela merecer, e ai de quem lhe ponha as mãos em cima! Inventem outros castigos". Uma professora que inventava castigos originais para mim era a de filosofia... Eu não admitia ver bullying à minha frente e envolvi-me em lutas para defender outros. Os marrões, os choninhas, fosse quem fosse. Não ia admitir ver acontecer à minha frente o que antes faziam comigo e não fazer nada, nunca. E todas as lutas em que entrei no secundário, foram para defender alguém até a última foi para defender uma professora...
Mas isso é outra história e isto é mais um relato de vida/desabafo que uma opinião. Se bem que considero que faz parte. O livro ajudou-me nisso, a deitar cá para fora.
Mas sim... Fartei-me de tudo e sou um dos casos no país que desistiu da escola, mesmo sendo inteligente e ter tudo para continuar os estudos (menos dinheiro). Até porque entretanto chegou a dita crise... E tivemos de emigrar...
Muita gente me diz: "és tão revoltada"... Se soubessem. O que eu passei no país e fora dele.
Este não é um livro fácil de ler, tanto pela sua vertente técnica, é um livro de análise e estudo como pelo tema em si, nos damos conta da quantidade e tipo de violências que existe à nossa volta!
Muita gente é vítima,e não sabe, ou pior, não quer saber. No entanto, deveria de ser um livro obrigatório na estante das escolas, empresas, hospitais, lares, etc, onde qualquer pessoa pudesse ter acesso a ele, nem que fosse para ler o capitulo com que mais se identifique e fique a saber sobre o tema e o que fazer para evitar ou caso se veja numa situação dessas ou veja uma situação dessas a ocorrer.
Ou melhor ainda. Ganhar consciência de que é uma das pessoas que provocam estas situações e parar!
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A APAV tem vindo a assegurar iniciativas de caráter preventivo, informativo e formativo considerando a temática do bullying – violência entre pares no contexto escolar, quer no âmbito de projetos promovidos pela APAV, quer correspondendo a pedidos efetuados pelas escolas e associações de pais e de estudantes.
Assim, na sequência da campanha contra violência nas crianças e jovens, "Corta com a Violência", que reflete precisamente que o combate ao bullying não é uma tarefa de um dia nem de algumas pessoas, mas de todos os dias e de todas as pessoas, é celebrado no dia 20 de Outubro, o Dia Mundial de Combate ao Bullying.
A APAV aproveita para relembrar as recentes conclusões do Barómetro APAV/Intercampus sobre a “Perceção da População Portuguesa sobre a Violência contra Crianças e Jovens” (http://goo.gl/sEf6bv) onde são apresentados alguns dados referentes ao fenómeno do Bullying. A APAV assinala este dia alertando para a importância de todos favorecermos relações saudáveis entre pares.
O bullying sempre existiu em todas as épocas, em todos os lugares, com todo o tipo de pessoas. Não podemos é ficar indiferentes a ele. Temos que educar, formar, agir, fazer aplicar as leis. Tu passaste por isso, eu felizmente não, mas isso não quer dizer que eu possa virar os olhos para o lado. Cada um de nós deve ser agente de uma sociedade justa, solidária e de respeito pelos outros.
ResponderEliminarFelizmente que nos tempos de hoje já tentam fazer algo, mas ainda há um looooongoooo caminho a percorrer... :/
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