Crónicas biblioterapêuticas: Sobre mim... Liliana Carvalho


Chamo-me Liliana Carvalho e sou a fundadora do projecto "Vamos doar livros à nossa biblioteca?".
Desabafar é uma coisa que faço principalmente em blogs, até porque na "vida real" são poucas as pessoas em quem confio para tal... Hoje venho desabafar convosco um pouco, sobre a importância dos livros na minha vida.

Ao escrever a editoras e a falar com pessoas que tenho conhecido graças a este projecto sobre a minha paixão pelos livros tenho-me dado conta cada vez mais da realidade do quão importante os livros sempre foram na minha vida. Principalmente nas horas mais negras...

Toda a minha vida vivi rodeada de livros, desde os quatro anos, quando aprendi a ler, aos cinco já lia avidamente, até aos dias de hoje, nunca houve um dia em que eu não tivesse um livro ao pé de  mim.  Já antes vivia rodeada deles, pois a minha mãe sempre foi uma apaixonada por livros, e até lia comigo ao colo, em bebé e claro, ainda estava eu na barriga e já sentia o encanto dos livros à minha volta. Quando eu tinha uns dois anos fomos viver para a linha de Sintra, mas a minha mãe continuava a trabalhar em Lisboa e em Lisboa eu andava num externato, onde ela me ia levar de manhã cedo e buscar à noite, isto até aos meus nove anos, e nessas viagens que fazíamos ida e volta de comboio íamos sempre as duas a ler... Nem quando tivemos de ir viver para o estrangeiro, ou quando cumpri o serviço militar, fosse na caserna ou nos exercícios militares no meio do nada, tinha sempre um livro comigo, fosse os de bolso no bolso largo das calças ou um na mochila de campo. Mesmo que não os pudesse ler precisava apenas de sentir a sua presença. Sempre foi o que pedi para prendas de anos, de natal ou seja o que for... Livros! E foram a minha maior e única companhia quando sofri de bullying na escola, onde me escondia em becos escondidos para ler e esquecer o mundo.

"Para quê tantos livros?" Tanta gente me tem perguntado ao longo da vida, mas... O que são "tantos livros"? Cada um deles têm uma história, cada um é uma companhia diferente. Existem amigos a mais? Dinheiro a mais? Saúde a mais? Se não, porque existem livros a mais?

Eu se vou a casa de alguém e vejo muitos livros, a minha primeira reacção é: "UAU! Tantos livros para ler e descobrir!". Também depende o que cada um compreende por muitos. Para mim não existem muitos livros, existe muita companhia, alegria, aventura, descoberta e conhecimento.

Criei este projecto para dar a conhecer novos livros, novos "amigos", grandes companhias a toda a gente, pois quer estejamos acompanhados quer sozinhos, especialmente sozinhos, os livros são a melhor companhia que se pode ter, os que mais nos dizem em silêncio, que dizem tudo o que precisamos de ouvir sem nos magoar, sem nos ofender, sem nos aborrecer ou chatear... Saber que, por muito má que a vida esteja, poderei sempre fugir para dentro de um livro... E nas alturas em que não possa comprar livros, terei sempre ao menos uma biblioteca ao dispor. Pois há dias em que o pior sufoco é não conseguir fugir de mim mesma, é como estar presa dentro de mim própria, e esse é um verdadeiro sufoco. Estar desorientada e não saber o que fazer comigo própria... No entanto, depois olho para os "tantos livros" e sinto que posso voltar a respirar, porque "ali dentro" desses "tantos livros" poderei novamente ser eu, ser livre e de uma forma só minha, poder viver e voltar a ganhar vontade para tudo!
Dentro de um livro ninguém me pressiona, ninguém me dá ordens, dentro do livro as personagens limitam-se a viver, e eu a assistir.

E não apenas a bibliotecas municipais, mas também às bibliotecas dos hospitais, dos lares de terceira idade, das escolas e mais que eu sei que hei-de descobrir no nosso portugal, tantos tipos de bibliotecas diferentes que existem e as pessoas não sabem, tal como já tanta gente me disse:"Pode doar-se livros às bibliotecas? Não fazia ideia." e agora todos os dias com os novos contactos que estou a fazer com várias pessoas, tantas mas tantas pessoas me dizem que nem nunca sequer tinham pensado nisso! Muitas limitam-se a deitar fora livros entre outras coisas, enquanto há tanta gente que dava muito para poder entrar na biblioteca, seja de onde for e levar um bom livro emprestado para ler...
Eu já tive internada após uma operação, e só eu sei a companhia que os livros que a minha mãe me ia lá levar me faziam, como sempre fizeram em todas as alturas boas e más, por isso é importante as pessoas saberem que há hospitais que têm bibliotecas, por exemplo.

Quero dar a conhecer mais a fundo o encanto dos livros, inspirar as pessoas, ressuscitar nelas ou inflamar ainda mais a sede de ler, de conhecimento, de solidariedade que os livros despertam em nós.

Espero sinceramente que apreciem esta iniciativa e desde já obrigada por lerem o meu desabafo...


Liliana Carvalho

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