Comunidade Portuguesa no estrangeiro - Vamos doar livros Portugueses à biblioteca onde estamos a viver?


Quando tive de ir viver para Espanha, porque os meus pais emigraram e eu tive de ir com eles, em tempos de solidão, desemprego, sensação de andar perdida e desorientada, refugiava-me muito na biblioteca municipal da cidade onde eu me encontrava a viver, para onde os meus pais emigraram: Pontevedra - Galicia.

Quando descobri a biblioteca, ainda por cima ficava perto de nossa casa, uns 15 minutos a andar, fiquei mesmo muito feliz e fui logo contar à minha mãe, pois ela também é uma apaixonada por livros, e então fomos logo as duas fazer o cartão para podermos fazer requisições.

Eu pessoalmente não gosto de ler livros estrangeiros na sua língua original ou traduzidos noutras línguas, apesar de eu saber ler e falar noutras idiomas, para mim ler na minha língua materna é um prazer muito grande e faz parte da minha paixão pela leitura.
Neste aspecto intromete-se o meu, como já me disseram: "patriotismo cego", mas para mim é assim.
Já a minha mãe lê e gosta de ler tanto em Espanhol como em Português e só não lê noutras línguas porque não as sabe.

Vocês nem imaginam quando eu, triste por tentar ler livros em Espanhol mas não apreciar, não gostava mesmo, era um sacrifício, deixei a literatura de parte e sem dinheiro para os mandar vir de Portugal não andava a ler quase nada... Na biblioteca requisitava apenas banda desenhada (mangás), documentários em dvd, revistas, jornais, livros práticos ou de anedotas,... Mas livros, literatura, não conseguia mesmo, não me consigo envolver na história, não consigo fazer parte do livro...
Até que um dia ao fazer uma coisa de que gosto muito, que é passar devagarinho os olhos por todas as lombadas dos livros, sentir com os dedos muito ao de leve, ver os títulos, ver as cores, ler o nome dos autores um a um, imaginar o que estará dentro de cada um, numa das prateleiras mais isoladas, mesmo lá ao fundo da biblioteca, num beco escuro sem saída, completamente esquecido, na prateleira junto ao chão, frente aos meus pés, estavam livros escritos em português de Portugal!! Até me veio lágrimas aos olhos de emoção!

Quanto a vocês, portugueses no estrangeiro que estejam a ler isto, eu não sei, mas nos 4 anos em que vivi no estrangeiro agarrava-me a tudo o que era nacional com unhas e dentes, cheia de orgulho e Tinham livros até de autores portugueses e tudo, tipo Eça de Queiroz, Fernando Pessoa e outros poucos, não mais do que uns 20 ao todo talvez, se tanto... Mas aquele pedacinho tornou-se sagrado para mim.

Claro que as bibliotecas não se focam muito em livros estrangeiros, nem provavelmente as pessoas no estrangeiro pensem doar livros na sua língua materna à biblioteca por pensarem que é um desperdício ninguém vai ler, ou que nem a biblioteca os quer mas eu, com ambição e confiança neste projecto vou tentar fazer as pessoas verem que não é bem assim!

Por exemplo, eu aqui tenho uma amiga francesa, tem a idade da minha mãe e o pouco que fala aprendeu a trabalhar, nunca estudou português e apesar de adorar ler onde vai ela buscar livros em francês para ler? Já coisas simples ela lê com dificuldade, quanto mais livros inteiros...
Pois eu vou aproveitar que nas livrarias, feiras e grandes superfícies aqui em Portugal os livros estrangeiros são quase sempre vendidos muito baratos e sempre que puder comprar uns, doar à biblioteca para que mais como ela, nem que seja para fazer a felicidade apenas a meia dúzia de pessoas possam ter esse prazer, irei comprar conforme as minhas posses e doar...
Quem me dera que mais portugueses tivessem investido na Biblioteca Pública del Estado en Pontevedra e quem me dera ter-me lembrado disto naquela altura, pois agora os portugueses que lá estão poderiam ir lá requisitar, inclusive a minha família, e uma parte de mim teria ficado naquele espaço onde passei tantas horas para sempre, com as minhas mensagens em português na primeira página, a minha assinatura, a minha presença...

Assim vamos tornar as bibliotecas do mundo num espaço importante para os seus estrangeiros.

E vocês? O que acham desta ideia?

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